19 de outubro de 2007

Não darei um título a este texto.

Ter crise de meia-idade aos 23 não é para qualquer um não. Tô me sentindo estranho com esse negócio de crise. Eu sempre achei crise (de qualquer coisa que seja) uma bela frescura. Nunca consegui entender como uma pessoa pode ter crise. Ainda mais de meia-idade. A verdade é que ainda acho frescura, o que me incomoda ainda mais por estar passando por isso.

Ninguém tá entendendo nada, né? Vamos à explicação, então.

Percebi, há pouco tempo, que ninguém me entende, pelo menos não de primeira. Tudo que eu falo alguém sempre diz: "ahn?". É isso mesmo. Até achei que era um problema de dicção ou coisa que o valha. Ledo engano. O problema é muito mais sério. Mesmo quando me ouvem de primeira, ainda assim não me entendem.

Não é bem que não me entendam, quando ouvem de primeira. Até entendem o que eu quis dizer, mas não me compreendem. Não estou querendo dar uma de incompreendido, nem nada do gênero, mas, pô!, não sou tão complicado assim. Ao contrário, sou até bastante simplificado e, por que não, superficial. Ainda assim não me aceitam como sou.

Aceitação. Talvez seja este o problema. As pessoas estão tão acostumadas com suas vidinhas cheias de crenças e esperanças vãs que não conseguem aceitar uma diferença, por ínfima que seja.

O problema de tudo é que eu não gosto de comemorações. Não me entendam mal. Adoro festas. O que pega é que não gosto das mesmas quando se dão em meu louvor. É, cara, não sei lidar muito bem com elogios, congratulações e parabéns em geral. Não sei o motivo de ser assim, só sei que assim sou eu. Aliás, na opinião deste que datilografa, é absolutamente antagônica essa necessidade de se comemorar aniversários e tudo o mais, mas isso é tema para outro texto.

O que dói é que ninguém respeita essa minha singela discordância das tradições. Já se vão três anos desde que resolveram me fazer uma festa surpresa (se não me falha a memória, o que nem é tão difícil assim). Não estou com saudades. Infelizmente não tem jeito de escapar, pois já suspeito que alguns familiares estão aguardando ansiosamente o resultado de minha última batalha sair para fazer um churrasco. Não preciso nem dizer que já estou de mal-humor por antecipação, né.

Minha outra crítica é à instituição da festa-surpresa em si. Porra, velho! Já tenho planos para todos os meus fins de semana, mas ninguém me pergunta nada a esse respeito e, ainda assim, querem que eu participe de uma coisa que eu não gosto, da qual não me avisaram e querem, o pior de tudo, que eu refaça meus planos para me adequar à vontades que não as minhas. Caralho! Além de ter de suportar algo que eu não gosto, ainda vou ter que abrir mão do que eu quero para fazer as vontades alheias?

Caso as pessoas ainda não tenham percebido, eu não sou Jesus Cristo, que abandonou de bom grado sua própria vida em favor de seres seus inferiores. Eu não sou altruísta (nem acredito que alguém seja, mas isso é assunto para outro texto). Ao contrário, sou excessivamente egocêntrico e orgulhoso. Mas, ignorando solenemente a minha opinião a meu próprio respeito, as pessoas ainda acham que mereço ser congratulado por qualquer coisa ou, pior, que eu preciso ser parabenizado por tudo o que faço, sob o ridículo argumento de que todos têm a necessidade de me sentir incentivados.

NÃO!!!

Ninguém me entende mesmo. Mesmo os que dizem me conhecer. Se alguém me conhecesse não me faria festas. Antes me criticaria por não conseguir tirar o primeiro lugar em nada, pois todo o meu tempo pode ser dedicado às minhas empresas. Mas não é. Eu não passo todas as horas do meu dia estudando. Até acharia uma idéia interessante, mas qual é minha recompensa pelo meu esforço de me superar? Festa para comemorar uma coisa que não é menos que minha obrigação (e que, aliás, eu não consegui, pois nunca fui o primeiro em absolutamente nada)...

Não gosto que louvem minhas derrotas (por mais que estas pareçam vitórias). Não gosto que me lembrem tudo o que tive que abrir mão para estar onde querem que eu esteja. Não estou reclamando do que consegui na vida. Mesmo porque não consegui nada, então não teria mesmo motivo para reclamar (estou falando de patrimônio aqui). Mas, mesmo assim, ainda insistem que eu sou alguém que merece alguma glória. Não, eu não mereço. Não estou me esforçando o meu máximo (por mais que pareça o contrário) e não estou nem aí para as coisas que a maioria das pessoas considera importante. Tenho minhas próprias preocupações e meus próprios desígnios, mas ninguém parece realmente interessado.

Enfim, é isso. Acho que deu para entender que não tenho feito absolutamente nada que mereça qualquer comemoração e que, por isso mesmo, não vou ficar feliz se alguém me congratular por qualquer coisa que seja.

O máximo, senhoras e senhores, é que é o suficiente. Meu incentivo é o desafio. Não há o que comemorar, por enquanto. Quando eu for o melhor em algo que me dê orgulho, então gostarei de confraternizar. Até lá, não importa o que minha máscara demonstre, estarei furioso por tripudiarem sobre as cinzas de minhas derrotas.