28 de dezembro de 2007

É Natal, É Natal! Um Feliz Natal!


[Nota do Lontra: O presente texto deveria ter sido publicado antes do dia 25, porém, por problemas de ordem técnica (o monitor pifou), tal não foi possível. Mas fica aí o texto, meio atrasado, mas ainda válido.]

É, meus caros (e parcos) leitores. Mais um ciclo anual está por se encerrar. Como não poderia deixar de ser, mais uma vez chega o Natal. Oh, a época em que todos estão mais felizes e mais dispostos a amar ao próximo, a perdoar as ofensas e até a pedir perdão.

Mas quanta hipocrisia! A única coisa que realmente acontece no fim de ano é o consumismo exacerbado de todo mundo. Ainda não entendi o instituto da troca de presentes, afinal o aniversariante não recebe nada além de mais lamentações e pedidos de que o próximo ano seja melhor do que o que passou.

Coitado do JC: além de não comer do peru e não poder cortar o bolo (quando há) ainda é obrigado a ficar ouvindo seres seus inferiores sempre pedindo mais e mais (seja paz para o ano que se avizinha, seja perdão por eventuais faltas cometidas). Nunca se satisfazem, os humanos. E ainda tentaram me convencer outro dia (né, Samara?) que a insatisfação é parte inerente do ser humano e que é até uma qualidade. Segundo dizem, serve para não nos acomodarmos e sempre procurarmos por algo melhor. Tá bom. Prefiro não ser ambicioso. É uma característica negativa, em minha opinião. É a ambição que sempre traz o pior de cada um de nós à tona.

Mas não é sobre isso que eu quero tratar neste post. É sobre o Natal e a hipocrisia do Homem (e da mulher também, afinal, para aqueles que vêem na Bíblia mais que um livro de contos fantasiosos, quase mitológicos, a culpa de não morarmos mais no Éden é delas. Embora se não fosse por Eva nunca saberíamos o que é sexo, então, por mim, estão perdoadas).

Hum. Natal, né? Certo. Concordo em grau, gênero e número (ou qualquer ordem que lhes apeteça) com o Padre Levedo [cujo site vocês podem acessar, bastando, para tanto, que deixem de preguiça e alcancem um dos menus à direita (sua direita, pacóvio, não a do blog), onde consta o nome linkado do dito] quando o mesmo diz que o Natal está errado. Para entender exatamente a opinião do pretenso sacerdote (e, por conseqüência lógica, a minha também) é que copio um post dele logo abaixo:


O NATAL DE MAQUIAVEL

Se fôssemos gente sensata, se realmente fizéssemos jus ao Epíteto de "Ápice da Criação", se pudéssemos ao menos uma vez usar o intelecto para Cousas mais Elevadas do que pensar num modo de comer a Vizinha Gostosona sem ser descoberto, uma coisa que deveria ser repensada é o Natal. Percebam, crianças, que o Natal é justamente o inverso do que ensina Maquiavel, no famoso bordão "O Bem se faz aos poucos; o Mal, de uma vez só". Se se levar isto a sério, o Natal deveria ser invertido no seu sentido precípuo, comezinho: transformar-se-ia em uma festa de celebração do ódio entre as pessoas. Sim, ouviram bem. Ódio entre as pessoas.

Nesta data especial, as pessoas colocariam para fora todas as antipatias, rancores, maledicências que têm contra os outros. Posso imaginar algumas cenas em família, que providencialmente estaria reunida em torno de uma pizza de microondas - porque a mamma se recusa a suar como uma porca na frente do fogão preparando uma refeição especial para seus filhos ingratos. Como fundo musical, "too drunk to fuck", tocado por imposição do filho mais velho, que ameaça cobrir de porrada quem se aproximar do som. A caçula olha para a pizza e comenta: "puta que pariu, tem cebola!". Ao que o pai, já bem bêbado, retruca: "eu trabalho feito um idiota para você, sua vagabundinha, reclamar da comida que EU comprei com o MEU dinheiro, caralho!". Claro que a festa acaba com pancadaria e todos vão parar no hospital.

Aí, depois de curadas as fraturas, o Manto da Paz se estenderia sobre todos, já que todo o ódio foi esgotado no certame. Pela frente, um ano inteirinho de compreensão, de tolerância, de gentilezas e o mais Puro Amor Cristão. Pessoas se cumprimentariam nas ruas, sorridentes, desejando ao próximo que Deus lhe desse um bom dia e um bom ano. Adolescentes ajudariam velhinhas a atravessar ruas, mendigos receberiam roupas e comida doadas espontaneamente, guardas de trânsito seriam gentis e compreensivos com todos, políticos roubariam menos (cof! cof!).

Claro que tudo isto segue a Lógica, que é a Aptidão Humana menos exercitada. Em verdade, crianças, eu lhes digo que o Natal de Maquiavel jamais será possível, e por um motivo bem simples. O ódio tem um prazo de validade bem maior que o amor. O amor é curtinho, dura um quase-nada, enquanto que o ódio pode viver dentro de uma pessoa durante toda a sua vida. É por isso que se comemora a Fraternidade entre os Povos apenas em um dia no ano. Mais do que isso é impossível para o Ser Humano. E alcança meu tacape, fasfavor.



Como se vê, o ser humano é um hipócrita, que fica nessa palhaçada de Feliz Natal e Jingle Bells para lá e para cá, todo mundo se dizendo cristão e extremamente propenso a amar todo mundo. Mas só no mês de dezembro, já que, no resto do ano, somos todos trogloditas que vivem disseminando o ódio, quer por atos, palavras ou até pensamentos.

Não estou dizendo que sou melhor que vocês todos. Sou tão ou mais disseminador de ódio quanto a maioria o é. A diferença (que existe, não se iluda) é que eu não gosto de Natal, Páscoa, Carnaval, Quaresma, Sexta-feira Santa [e quaisquer outras datas para celebrar uma coisa que não existe (amor ao próximo)] e não faço questão nenhuma de disfarçar este fato. Sou orgulhoso (e, na maioria das vezes, sincero) sim e tenho o maior orgulho disso.

Eu até poderia gastar um espaço considerável aqui falando que todo mundo é egoísta, que todos só pensam em seu próprio bem e demonstrando, através de argumentos, que não existe mesmo o tal do amor ao próximo, mas o que eu tinha para falar hoje já está dito. Se alguém quiser que eu retome o tema do egoísmo (e um monte de outros temas que ficaram em aberto nos posts anteriores) é só mandar um e-mail ou pedir pessoalmente, para aqueles que me conhecem.

Não tenham um Feliz Natal! Passem o resto dos seus dias remoendo a seguinte dúvida: vocês são realmente o que afirmam ser?

Eu duvido...