22 de julho de 2007

A mudança é necessária.


Tenho visto inúmeras manifestações sobre a morte do senador Antônio Carlos Magalhães. Manifestações de alegria e de tristeza. Sim, há quem tenha ficado triste por sua morte, afinal, para o povão ele era (como ainda o são Roriz e tantos outros) a personificação do bom político: ele rouba, é verdade, mas pelo menos faz alguma coisa. Tenho um tio que, não importa o que se diga do Roriz, votaria nele até para Deus, se a ordem celeste fosse uma democracia (o que aprovo) e não o absolutismo que é (o que desaprovo). É vergonhoso ver nosso povo, que tinha tudo para se destacar positivamente no cenário internacional, aceitar ser roubado assim, só porque o ladrão faz uma merda de uma ponte sobre o lago Paranoá. Vergonha, vergonha, vergonha...

A mais comum das manifestações foi a de alegria. E eu entendo as pessoas ficarem felizes, afinal, é um bandido a menos para nos roubar. Eu também fiquei feliz com a notícia. Só que agora, pensando com mais calma, vejo que é uma atitude tão estúpida quanto render homenagens ao cara (exceção para os pilantras que se beneficiaram de seus negócios espúrios). Em vez de aproveitar o momento para refletir e adquirir alguma consciência social, fazemos o mais óbvio, o mais inferior, que é recorrer aos instintos primitivos da satisfação ou insatisfação pura e simples, sem o menor resquício de racionalidade. Às vezes acho que alguns estrangeiros estão cobertos de razão quando dizem que o continente sul-americano é habitado apenas por símios.

Acho engraçado também quando me dizem que o problema do Brasil é o excesso de políticos corruptos. O argumento é que, caso não houvesse político corrupto, haveria melhor distribuição de rendas, leis mais justas e toda essa coisa proveniente da utopia. Sei que isso não deveria ser engraçado e sim revoltante, mas não há como controlar o riso frente a tamanha imbecilidade.

Ora! É óbvio que os políticos são corruptos. Todo mundo neste país é corrupto! Quem não fura o sinal vermelho? Quem não excede o limite de velocidade? Quem não joga lixo no chão? Quem é que segue a lei como deveria? Ninguém! Eu, assim como qualquer pessoa em nosso tão (sub-) estimado País, faço tudo do jeito mais cômodo e, tirando jogar o lixo no chão (que não admito) incorro em todos os outros crimes citados. Acho que isso é que é jeitinho brasileiro: burlar a lei para conseguir o que queremos de modo mais rápido e o menos dispendioso possível.

A única lei que realmente é seguida por aqui é a Lei de Gérson. A essa sim, todo mundo obedece. E esse é outro problema. A Lei de Gérson diz que deve-se levar vantagem sempre e sobre tudo (ou todos, como preferirem). O que ninguém se dá conta é que a Terceira Lei de Newton ainda não foi revogada. Combinando a Terceira Lei à Lei de Gérson, temos que, inevitavelmente, para que alguém se locuplete de determinada vantagem, outro alguém terá que arcar com o prejuízo. Ou seja, não há muita diferença entre desviar grana do Bolsa Família e sonegar impostos: as duas coisas vão atingir exatamente quem mais precisa de dinheiro. Pode não parecer, mas o Universo funciona em equilíbrio. É simples assim, mas ninguém toma ciência disso. Ou finge que não, o que também é muito comum em Terras de Pindorama.

Entendeu o que eu quis dizer? Como é que podemos reclamar que nossos políticos são corruptos se não nos preocupamos em seguir a lei? Que moral qualquer um de nós tem para reclamar deles, afinal também causamos prejuízo à coletividade?

O problema não está nos políticos e sim no povo, caso alguém ainda não tenha chegado a esta óbvia conclusão. É verdade que nós é que temos o poder de mudar os políticos e colocar no Poder pessoas que sejam realmente honestas. Mas só podemos eleger pessoas do povo e não existem tais pessoas entre nós. Não adianta toda essa luta para que os políticos se tornem honestos. Uma campanha desse tipo surte tanto efeito quanto um pedido de desculpas feito por Bin Laden aos americanos.

Para terminar, tenho que dizer que os políticos só vão deixar de ser desonestos quando o povo, que é de onde eles emergem, também o fizer. Quando preferirmos pagar uma multa que subornar o guarda. Aliás, se seguíssemos as determinações do Código de Trânsito nunca receberíamos uma multa, o que eliminaria a necessidade de subornar o guarda. Viu como é fácil? Basta querer.

No mais, adeus ACM! Espero que não tenhamos nenhum outro da sua laia por aqui por um bom tempo. Estou rezando para isso e para que o Roriz seja preso também. Pelo menos ele, para que meu tio passe a me escutar quando digo que ele não presta e para ver se o povo aprende a não ser corrupto.